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terça-feira, 1 de julho de 2008

Oliver Sacks



” O autismo, embora possa ser visto como uma condição médica, também deve ser encarado como um modo de ser completo, uma forma de identidade profundamente diferente”
Oliver Sacks


Oliver Sacks, neurologista nasceu em 1933 e tem vários livros sobre os seus pacientes. O mais conhecido, que foi adaptado ao cinema, foi “Awaknings” e relata a sua passagem por um hospital no qual existia um grupo de pessoas num estado tipo estátua (congelados), alguns à décadas. Reconheceu-os como sobreviventes duma pandemia da “doença do sono” e tratou-os com uma droga experimental que os trouxe de volta “à vida”.
O último conto do livro, chama-se "Um antropólogo em Marte", e é sobre uma autista, Ph.D. em ciência animal, professora da Colorado State University. Apesar das adversidades, ela tornou-se uma importante autoridade mundial em sua área de actuação profissional. Curiosamente, a linguagem técnica era muito mais acessível a essa pesquisadora do que a linguagem social, o que permitiu que ela se adaptasse à vida fazendo ciência. A ciência a medicou, ao mesmo tempo que se tornou o seu refúgio. Durante toda sua vida, ela dizia que se sentia como um "antropólogo em Marte". Provavelmente, essa deve ser uma sensação compartilhada por muitas outras pessoas com distúrbios neurológicos.

O livro de Sacks vale a pena. Nesse livro, o estilo dos contos de Sacks pode ser explicado por uma frase do médico escritor: "Mas, para voltar ao ponto de partida, todos os estudos clínicos, por maior que seja o empreendimento, por mais profunda que seja a investigação, devem retornar aos casos concretos, aos indivíduos que os inspiraram e sobre quem eles discorrem".

Trecho do conto "Um Antropólogo em Marte"

"Que a disposição para o autismo seja biológica é algo que não está mais em questão, nem as provas cada vez maiores de que ele seja, em alguns casos, genético. Geneticamente, o autismo é heterogêneo - por vezes dominante, por outras recessivo. Ele é mais comum nos homens. A forma genética pode ser associada, no indivíduo ou na família afectada, a outros distúrbios genéticos como dislexia, distúrbios de déficit de atenção, distúrbio obsessivo-compulsivo ou síndrome de Tourette. Mas o autismo também pode ser adquirido, o que foi percebido pela primeira vez nos anos 60, com a epidemia da rubéola, quando um grande número de bebês acabaram desenvolvendo-o . Ainda não se sabe se as chamadas formas regressivas do autismo - por vezes com perdas abruptas da linguagem e comportamento social em crianças entre os dois e quatro anos que anteriormente vinham se desenvolvendo de uma forma relativamente normal- são causadas geneticamente ou pelo meio. (...)

E, no entanto, os pais de uma criança autista que vêem seu filho retrocedendo em relação a eles, ficando distante, inacessível, sem reacções, podem continuar inclinado a assumir a culpa. Podem ver-se lutando para se relacionar e amar uma criança que, aparentemente, não lhes corresponde. Podem fazer esforços sobre-humanos para alcançar, agarrar uma criança que vive num mundo inimaginável e alheio; e ainda assim todos os seus esforços podem parecer vãos"

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